Pela primeira vez em muitos anos, a justiça bloqueia a publicação dos resultados de pesquisas de intenção de voto [ exemplos 1, 2, 3 ]. O movimento é curioso, pois as tentativas de desacreditar pesquisas fazem parte dos repertórios contemporâneos de candidatos locais e de outros mundos.
Para manter a proposta dos textos curtos, ignorarei os inúmeros problemas operacionais enfrentados pelos institutos de pesquisas nos últimos anos e me concentrarei nas dificuldades de comunicação das incertezas.
Candidatos, jornalistas, eleitores e juízes eleitorais podem ter compreensões divergentes sobre as previsões e seus impactos sobre a decisão de voto. Intervalos de confiança e margens de erro são ideias pouco amigáveis para muitos eleitores.
Acusações vazias como “[…] Datafolha, continua pagando vexame e com toda a certeza recebendo algo de muito bom dos seus patrocinadores” [ 4 ] aproveitam a falta de compreensão do eleitorado sobre as incertezas das previsões exibidas nos gráficos da imprensa neste período.
Inferir o desfecho de eventos com base informações parciais é um problema do mundo, não apenas das eleições. Mesmo entre cientistas, que teoricamente seriam preparados para compreender o que significam probabilidades e incertezas, há problemas.
Alan Sokal e Jean Bricmont citaram o físico e matemático francês Henri Poincaré (1854-1912) em passagens do livro que aborda explora tais problemas:
Por que os meteorologistas têm tanta dificuldade de prever o tempo com alguma segurança? Por que é que chuvaradas, e mesmo tempestades, parecem chegar por acaso, tanto que muita gente acha bastante natural rezar pela chegada da chuva ou por um tempo agradável, embora considere ridículo fazer orações pedindo um eclipse? Verificamos que grandes perturbações são produzidas em regiões onde a atmosfera está em equilíbrio instável. Os meteorologistas percebem muito bem que o equilíbrio é instável, que o ciclone estará se formando em algum lugar, mas não estão em condições de dizer exatamente onde; um décimo de grau mais ou menos em qualquer ponto dado, e o ciclone vai irromper aqui e não ali, estendendo sua destruição sobre áreas que de outro modo seriam poupadas. Se eles tivessem sido alertados sobre esse décimo de grau, poderiam sabê-lo de antemão, mas as observações não foram suficientemente abrangentes nem suficientemente precisas, e esta é a razão por que tudo isso parece ocorrer por acaso.
— Poincaré, Science and Method (1909)
Pessoas “não acreditam” na previsão do tempo porque ela “nunca acerta”.