Picture a Scientist é um documentário que apresenta as histórias de três cientistas mulheres no mundo dos homens da ciência: a bióloga Nancy Hopkins (MIT), a química Raychelle Burks (St. Edwards Austin, agora em AU) e a geóloga Jane Willenbring (UC San Diego, agora em Stanford).
Obviamente, eu não conhecia as três e este é exatamente o argumento do trailer. Eu conheço biólogos, químicos e geólogos homens, muitos desde a educação infantil. As ciências e o trabalho científico foram construídos no nosso imaginário a partir da biografia deles: o teorema de Pitágoras; a vasta produção matemática de Arquimedes; as descobertas astronômicas de Galileu, Kepler e Copérnico; a mecânica de Newton; o “penso, logo existo” de Descartes; a pasteurização de Pasteur; a relatividade de Einstein; a correlação de Pearson; o bóson de Higgs… E a lista continua.
As cientistas retratadas pelo documentário integram o corpo de pesquisadores e docentes de universidades de prestígio e nem por isso foram protegidas de assédios, importunações e outras tentativas de restringir o desenvolvimento de suas carreiras.
É importante alertar que os depoimentos são muito duros, chocantes e necessários. Essas pesquisadoras passaram por situações absurdas e, na maioria dos casos, formalmente criminosas. “O que acontece na pesquisa de campo fica na pesquisa de campo”, diziam eles.
Orientadores, supervisores e colegas de profissão mantêm práticas sutis e menos violentas, que não obstante discriminam pesquisadoras na graduação e pós-graduação: exclusão de listas de e-mails e de convites para eventos, atropelos em promoções, tratamentos por xingamentos, sabotagens de pesquisas, falta de reconhecimento e atribuição de crédito por publicações, para citar os principais.
A dificuldade para falar dos episódios e denunciar os “colegas”, mesmo após tanto tempo, ajuda a entender como as instituições podem ser (e são) coniventes. Após o “Relatório MIT”, a situação parece ter começado a mudar nos EUA.
Depois de assistir ao documentário, comecei a reunir links novos e antigos para incluir neste post. Há muitas iniciativas interessantes que lutam por igualdade e visibilidade para mulheres cientistas, no Brasil e no exterior [ p.ex. 1, 2, 3, 4, 5 e a minha favorita ].
O livreto de passatempos Mulheres Cientistas: Corona Vírus, divulgado pelo Plural, foi produzido pelo projeto de extensão “Meninas e Mulheres nas Ciências” da UFPR. São caça-palavras, desenhos para colorir e palavras cruzadas que divulgam as pesquisas de mulheres cientistas. A molecada precisa de exemplos lúdicos e que despertem a curiosidade desde cedo.

Em artigo recente para o CTS/Ipea, a pesquisadora Fernanda De Negri apurou que as mulheres são maioria (54%) entre as pessoas matriculadas em cursos de doutorado no Brasil e são mais de 60% dos pesquisadores da área de saúde. Por outro lado, apenas um cada quatro pesquisadores contemplados por bolsas de produtividade no país são mulheres. Nas áreas de Computação e Matemática, pesquisadoras mulheres são menos de 25%. O ótimo minidocumentário Potência N, que eu assisti há algum tempo, conta histórias e desafios de pesquisadoras da área de Matemática.
Por fim, pesquisei a base de membros da Academia Brasileira de Ciências e encontrei os seguintes dados: considerando membros de todas as categorias, são 804 homens para 155 mulheres (cerca de 19%). Se o filtro da busca for feito para membros titulares, a situação muda pouco (468 homens versus 95 mulheres, 20%).
Picture a Scientist está na seleção especial do Tribeca Film Festival (2020) e deve chegar em breve aos serviços de streaming (ou ao seu fornecedor alternativo favorito).
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